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Aluno(a) |
Rafael Henrique Palomino |
Titulo |
O LEITOR NA REPORTAGEM DE REVISTA: UM ESTUDO DAS MARCAS DA INTERAÇÃO NO GÊNERO |
Orientador(a) |
Profa. Dra. Renata Maria Facuri Coelho Marchezan |
Data |
25/06/2014 |
Resumo |
Este trabalho pretende identificar traços da imagem do leitor presumida nas reportagens de revista. O objetivo primário é observar uma regularidade nas atividades discursivas (o perfil do leitor, tal como é imaginado) que pode dizer algo sobre o gênero como um todo, uma vez que a imagem do leitor estrutura o gênero. Imagina-se ainda que essa imagem do leitor não possa ser neutra. Isso significa que a atividade de reportar define um perfil de seu leitor, que, em algum grau, acaba por ser interiorizado pelo falante que participa dessa atividade. Esse perfil é o ponto de partida para a leitura, e o guia para a escrita. Este trabalho baseou-se na análise de 72 reportagens de CartaCapital, Época, IstoÉ e Veja, de outubro de 2008. Partiu-se do conceito de gêneros discursivos como uma estabilização de formas discursivas na interlocução e por ela, decorrente da necessidade de essas formas cumprirem uma função numa atividade social humana. Procurou-se mostrar a existência de um gênero que realiza a função de reunir os acontecimentos da semana, ligá-los e interpretá-los; a ele, deu-se o nome de reportagem. Pelo exame do contexto sócio-histórico, deduziram-se hipóteses sobre o gênero, que se submeteram ao teste empírico no corpus. Concluiu-se que a reportagem de revista mantém um diálogo marcado por um traço de intimidade com o leitor, estabelecendo com ele um vínculo de confiança subjetiva. Ela se ocupa, acima de tudo, de interpretar, e não de informar. Sua argumentação procede mais intensamente ao reforço de valores de grupo, do que à veridicidade das interpretações apresentadas. Embora a reportagem de revista se deixe permear pelo diálogo em larga escala e precise reagir aos discursos contrários ao seu, a argumentação para convencer o leitor do que ela diz, ou para dissuadi-lo das teses que a contrariam, é relativamente rara. A leitura é fortemente marcada por traços emocionais, dos quais o mais comum é o recurso ao humor. A concordância entre autor-criador e leitor é muito grande; a polêmica, quase nula. As vozes que permeiam a reportagem são destituídas das acentuações valorativas originais, submetendo-se, ostensivamente, à voz do autor-criador, que controla o sentido do texto e fecha-o. Isso tudo sinaliza um leitor pouco concentrado, pouco afeito à reflexão profunda, cujo critério para a leitura é a satisfação pessoal, e não a responsabilidade social. É um leitor de características relativamente homogêneas (um auditório particular), que compõe um nicho de mercado. Sua visão de mundo é racionalizada na reportagem, que, para obter dele o vínculo de confiança, reproduz para ele as ideias dele, tal como as percebe. A interação com esse leitor faz crer numa imprensa que está determinada não pela ética liberal-burguesa que fundamenta seus princípios, mas pela lógica de mercado liberal-burguesa que viabiliza sua existência de empresa capitalista.
Palavras-chave: 1. Círculo de Bakhtin (Bakhtin, Voloshinov, Medviédev); 2. Gêneros do discurso; 3. Reportagem.
This work intends to identify some aspects of readers image, as it is presumed in the magazine reports. The primary goals of this study is verify a regularity in the discursive activities (the readers profile, as it is imagined) that can reveal something about the genre taken as a whole, as this image of the reader structures the genre. It has been agreed this readers image cannot be neutral. It means that the reporting activity itself defines a readers profile that, in some degree, is interiorized by the speaker who participates on this activity. This profile is the starting point to reading, and the guide to writing. This work analyzes 72 reports from CartaCapital, Época, IstoÉ and Veja, from October 2008. It started from the discursive genres concept as the discursive forms stabilization in the verbal interaction and by it, resulting from the need of its forms to perform a function in a human social activity. With this criterion, was shown the existence of a genre that performs the function of gathering issues of the week, connecting and interpreting them. It was named report. By the socio-historical context, it was inferred hypothesis about the genre, which were empirically tested on the corpus. It was concluded that the report maintain a dialog marked by a feature of familiarity with the reader, setting with this person a subjective trust link. It tries above all to interpret, not to inform. Its argumentation makes more intensively the reinforcement of group values, than the verifying of presented interpretations. Even though the magazine report is permeated by a large scale dialogue and needs to react to the discourses opposed to its own, the argumentation to convince the reader of what the report says, or to dissuade the reader of believing the opponent thesis, is relatively rare. The reading is strongly marked by emotional features, of which the most common is the humor. The agreement between author and reader is very significant; the polemic is almost none. Finally, all the voices that permeate the report are dismissed of its original value accents, being these voices ostensibly submitted to the authors, that controls the meaning of the text and closes it. It all seems to show a reader not focused, less inured to a deep reflection; a reader of which criterion for reading is the personal satisfaction, and not the social responsibility. A reader with relatively homogeneous characteristics (a particular auditorium) that composes a market niche. This readers vision of the world is rationalized by the report, that, in order to obtain a trust link, reproduce the readers ideas for the reader, as they can be perceived. The interaction with this reader suggests a press less determined by the liberal-bourgeois ethics that grounds its principles, than by the liberal-bourgeois market logic that makes possible the press existence as a capitalist company.
Key-words: 1. Bakhtins Circle (Bakhtin, Voloshinov, Medviédev); 2. Discursive genres; 3. Report. |
Tipo |
Defesa-Doutorado |
Texto Completo |
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