UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Educação Escolar

Aluno(a) Fátima Aparecida de Souza Francioli
Titulo Contribuições da perspectiva histórico-cultural para a alfabetização nas séries iniciais do Ensino Fundamental
Orientador(a)
Data 22/03/2012
Resumo Esta pesquisa, de natureza conceitual, procurou apresentar as contribuições da teoria histórico-cultural para o ensino da linguagem escrita nos anos iniciais do ensino fundamental demonstrando como no processo de alfabetização a criança pode desenvolver um domínio consciente da escrita. Até a década de 1980, o Brasil utilizou, para alfabetizar as crianças, os denominados “métodos tradicionais”, constituídos pelo método sintético, analítico e misto. A partir de meados daquela década difundiu-se por todo o país a teoria construtivista como proposta pedagógica, em especial nas séries iniciais do ensino fundamental. A chamada “psicogênese da língua escrita” deslocou o eixo do “como se ensina” adotado pelos métodos então em vigor para o “como se aprende”, característica da concepção educacional sustentada pela teoria construtivista. No entanto, os resultados, bastante insatisfatórios, apresentados pelas avaliações nacionais, têm demonstrado que é preciso buscar alternativas pedagógicas que respondam aos desafios atuais da alfabetização. Nesse sentido, optamos pela psicologia histórico-cultural e pela pedagogia histórico-crítica, por encontrar no cerne dessas teorias as respostas para um ensino que desenvolva a aprendizagem consciente da criança. A análise que realizamos, de escritos de Vigotski sobre a linguagem escrita, mostraram que para esse autor a novidade essencial que a aprendizagem da linguagem escrita traz ao processo de uso dos signos pela criança reside no caráter voluntário do uso da linguagem escrita em comparação com o caráter espontâneo do uso da linguagem oral pela criança. Esse aspecto conecta-se, na teoria vigotskiana, à questão da relação entre os conceitos espontâneos e os conceitos científicos no desenvolvimento do pensamento da criança na escola fundamental. Os conceitos espontâneos formam a base a partir da qual a criança aprende na escola os conceitos científicos. Tal aprendizagem, por sua vez, desencadeia um processo de reestruturação de todo o pensamento infantil, que leva à reformulação dos conceitos espontâneos, num processo de superação por incorporação. A aprendizagem da linguagem escrita ocorre sobre a base do domínio da linguagem falada, mas estabelece um novo patamar de relacionamento da criança para com suas próprias formas de expressão. Na mesma direção, no âmbito da pedagogia histórico-crítica, Saviani analisou as relações dialéticas entre cultura popular e cultura erudita, mostrando que a primeira é a base da segunda, cabendo, porém, à escola, trabalhar para a socialização do saber sistematizado, isto é da cultura erudita, num processo de superação por incorporação da cultura popular. Fundamentando-nos nessas referências teóricas concluímos que a unidade entre alfabetização e tomada de consciência se constitui a partir da apropriação dos conceitos científicos possibilitada por um ensino deliberadamente voltado à transmissão do conhecimento em suas formas mais desenvolvidas. Portanto, todas as particularidades da língua escrita que constituem as características essenciais para o desenvolvimento do psiquismo humano, deverão estar estruturadas num ensino escolar organizado em conteúdos e métodos que permitam às crianças assimilarem com êxito os saberes produzidos historicamente pela humanidade.

Palavras-chave: alfabetização, psicologia histórico-cultural, pedagogia histórico-crítica, domínio consciente da linguagem escrita.

ABSTRACT

This study, conceptual in nature, attempted to present the contributions of cultural- historical theory to the teaching of written language in the early years of primary education by showing how the child may develop a conscious mastery of writing in the literacy process. Until the 1980`s, Brazil used what is entitled as the “traditional methods”, which consisted of the synthetic, analytical and mixed methods. From the middle of that decade, constructivist theory has spread throughout the country as a pedagogical proposal, especially in the early grades of elementary school. The so-called" psychogenesis of written language" shifted the axis of "how to teach process" adopted by the methods then applicable for the "how to learn process" feature of the educational concept supported by constructivist theory. However, unsatisfactory results, presented by the national evaluations have shown that we must seek educational alternatives that respond to the current challenges of literacy. In this sense, we chose the cultural-historical psychology and the critical-historical pedagogy, because we found in the core of these theories the answers to a teaching process that develops a conscious learning of the child. The analysis we performed in the Vygotsky`s writtings on the written language, showed that, for this author, the major innovation that the learning process of the written language brings to the process of using signs by the children lies in the voluntary character of the use of the written language compared to the spontaneous character of the use of the oral language by the child. According to the Vygotskyan theory, this aspect connects to the issue of the relation between spontaneous concepts and scientific concepts in the development of the child's thinking in elementary school. The spontaneous concepts form the basis from which the child learns in school science concepts. Such learning, in turn, triggers a process of restructuring the entire children's thinking course, which leads to the reformulation of spontaneous concepts, in a process of overcoming by incorporating. Learning the written language is based on the domain of spoken language, but establishes a new level of child's relationship to their own forms of expression. In the same direction, within the critical- historical pedagogy, Saviani examined the dialectical association between popular culture and erudite culture, showing that the former is the basis of the second, leaving, however, to school the task of working for the socialization of systematized knowledge, this is of erudite culture, in a process of overcoming by incorporating popular culture. Basing on these theoretical references, it was possible to conclude that the unit between literacy and awareness is founded upon the appropriation of scientific concepts made possible by an educational deliberately aimed at the transmission of knowledge in its most developed forms. Therefore, all the peculiarities of the written language which constitute essential features for the development of the human psychism should be structured in a school education organized in contents and methods that allow children to successfully assimilate the knowledge historically produced by mankind.

Keywords: literacy, cultural-historical psychology, critical-historical pedagogy, conscious mastery of written language
Tipo Defesa-Doutorado
Texto Completo

APG 2.0
Copyright 2014 (c) UNESP - Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Araraquara