UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Lingüística e Língua Portuguesa

Aluno(a) Alessandro Augusto de Souza Vasconcelos
Titulo Usos do sinal (que/quem) na Língua Brasileira de Sinais: multifuncionalidade e gramaticalização
Orientador(a) Profa. Dra. Angélica Terezinha Carmo Rodrigues
Data 21/07/2023
Resumo RESUMO
Neste trabalho, como pesquisador surdo, tenho como objetivo analisar como os sinalizantes surdos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) utilizam o sinal (que/quem), extraído de dois córpus principais: Corpus Libras (UFSC) e Minicórpus compilado por pesquisadores do Grupo SignL da UNESP. Os usos desse sinal incluem sua categorização como pronome interrogativo, como previsto nos dicionários Lira e Souza (2011) e Capovilla et al. (2017), mas também observamos, nos dados, que pode ser associado a contextos envolvendo pares perguntaresposta: pergunta plena (formulada pelo sinalizante e respondida por outro sinalizante), pergunta semirretórica (formulada e respondida pelo próprio sinalizante) e pergunta retórica (formulada para não ser respondida), além de poder ser usado como complementizador em contextos de orações subordinadas. Nossa pesquisa tem como objetivo mostrar que os diferentes usos do sinal podem refletir um processo de gramaticalização (Heine, 2003 apud Rodrigues, 2022), que parece ter levado à emergência de complementizador a partir de pronome interrogativo. Os autores Pfau e Steinbach (2011) e Rodrigues (2022) afirmam que os estudos sobre gramaticalização em línguas de sinais, embora profícuos e pertinentes, apresentam desafios metodológicos, já que não dispomos de robusto conjunto de evidências diacrônicas. Partimos de um conjunto de 46 videossinalizados extraídos do Corpus Libras (UFSC) e do Minicórpus compilado por pesquisadores do Grupo SignL da Unesp. Demonstramos que, nesses vídeos, todos anotados no programa ELAN (HELLWIG, 2020), os sinalizantes surdos utilizam o sinal associado a pares pergunta-resposta como estratégia de pergunta semirretórica. Nossas ocorrências somam 131 usos do sinal nos bancos de dados, que foram operacionalizadas através do software Microsoft Excel. Os resultados obtidos foram divididos em quatro grupos de análise: (i) os contextos sintáticos de uso do sinal , em que as ocorrências apresentam os contextos sintáticos dos pares pergunta-resposta e orações subordinadas adjetiva (restritiva e explicativa) e substantiva (subjetiva, objetiva, completiva nominal, predicativa do sujeito); (ii) estatuto categorial do sinal, em que observamos os usos do sinal , apresentando suas formas morfológicas do seu processo de gramaticalização da categoria gramatical: pronome interrogativo, pronome indefinido e conjunção subordinativa; (iii) marcações não manuais associadas ao sinal, em que demonstramos a frequência do uso do movimento de cabeça e sobrancelhas associado aos sinal ; e (iv) gramaticalização do sinal, em que apresentamos as informações das descrições fonológicas com usos do sinal – fazemos aí um compilado que demonstra os sinais em sua própria categoria gramatical com sua propriedade. Para isso, seguimos Hopper e Traugott (2003), considerando um arranjo de formas analisadas como menos e mais gramaticalizadas: pronome interrogativo > pronome indefinido > subordinação. Identificamos, ainda, os usos do sinal , com seu movimento diferente, que se refere a não ser particular nem restrito a quantidades com identificações; as outras ocorrências analisadas podem ser do seu contexto sintático da oração subordinada adverbial, mas foram pouco encontradas para observar o seu processo de gramaticalização.
Palavras-chave: Língua Brasileira de Sinais (Libras); Gramaticalização; Que/Quem; Pronome Interrogativo; Conjunção subordinativa.

ABSTRACT
In this work, as a deaf researcher, my objective is to analyze how deaf signers of the Brazilian Sign Language (Libras) use the sign (what/who), extracted from two main corpus: Corpus Libras (UFSC) and Minicórpus compiled by researchers from the Group SignL from UNESP. The different occurrences of this sign include its categorization as an interrogative pronoun - discriminated in the dictionaries Lira e Souza (2011) and Capovilla et al. (2017) - but it is also observed, through the data, that it can be associated with contexts involving the question-answer pairing strategies: full question (it is elaborated by the signer and answered by another signer), semi-rhetorical question (it is elaborated and answered by the signers themselves), and rhetorical question (it is elaborated not to be answered), in addition to being used as a complement in subordinated clauses. Our research aims to show that the different uses of the sign may reflect a grammaticalization process (Heine, 2003 apud Rodrigues, 2022), which seems to have led, from interrogative pronouns, to the emergence of its function as a complement. The authors Pfau and Steinbach (2011) and Rodrigues (2022) state that the research on grammaticalization within the area of sign languages, although fruitful and relevant, present challenges in their methodology, as we do not encounter a solid collection of diachronic evidence. Our Corpus consists of 46 signed-videos extracted from the Corpus Libras (UFSC) and the Minicorpus compiled by researchers from the SignL Group at UNESP. It is demonstrated that, in these signed-videos, all registered in the ELAN software (HELLWIG, 2020), the deaf signers use the sign associated with the question-answer pairing strategy, utilizing the semi-rhetorical question system, divided between “semi-rhetorical question” and “complement function” for our analysis. We collected 131 signs from the database’s occurrences, which are systematized via Excel. This analysis was divided into 5 categories approaching the different functions of the sign : indefinite pronoun, relative pronoun (adjective subordinate clause), subordinating conjunction (substantive subordinate clause) and another category, presenting their phonological descriptions of the sign . Thus, as proposed by Hopper and Traugott (2003), it is conceived as an hierarchical arrangement of forms analyzed as less or more grammaticalized: interrogative pronoun > indefinite pronoun > subordinate. We also identify the uses of the sign , with its different movement, which refers to not being particular nor restricted to quantities with identifications; the other occurrences analyzed may be from their syntactic context of the adverbial subordinate clause, but they were rarely found to observe their grammaticalization process.
Key-words: Brazilian Sign Language (Libras); Grammaticalization; What/Who; Interrogative Pronoun; Subordinating Conjunction.
Tipo Defesa-Mestrado
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