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Aluno(a) |
Ofélia Regina Bravin Moreira |
Titulo |
A escrita de si como construção da subjetividade da autora Carolina Maria de Jesus: análise de fragmentos discursivos da obra Quarto de Despejo. |
Orientador(a) |
Profa. Dra. Maria do Rosario de Fátima Valencise Gregolin |
Data |
15/05/2023 |
Resumo |
RESUMO
A história de Carolina Maria de Jesus ainda não é bastante conhecida do público brasileiro, nem mesmo daqueles que hoje produzem ou consomem a literatura considerada marginal. Entretanto, a representatividade de sua obra para as vozes que continuam silenciadas é fundamental como precursora e incentivadora. Moradora de uma favela no Canindé, zona norte de São Paulo, Carolina conheceu o jornalista Audálio Dantas em uma das visitas que este fazia ao local. Esta aproximação resultou na publicação dos seus diários, em que descrevia como ninguém o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Mulher e negra, a autora é uma das pioneiras da Literatura Negra. Protagonista de sua história, trazia em seu discurso a resistência e o enfrentamento ao poder, a fim de superar os códigos que sustentavam a desigualdade social no país. Carolina tinha a plena consciência de que era uma escritora e de que tinha algo a dizer do locus onde se encontrava. Desta maneira, foi importante observar como essas vozes periféricas foram se tornando visíveis por meio de Carolina, na década de 50, até a autora ser silenciada pela mídia, no período ditatorial. Assim, o corpus, objeto de análise desta pesquisa, são os fragmentos discursivos de Carolina Maria de Jesus no livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada, tendo como objetivos: identificar o contexto histórico-social de onde a autora produz seu discurso, analisar, por meio da escrita de si, sua autoconstrução como escritora/autora/poetisa mesmo contrariando o status quo, investigar como a mídia recebeu a escritora e sua obra em 1960, depois como a silenciou e a retoma a partir da década de 80. O referencial teórico-metodológico desta pesquisa alicerçou-se nos Estudos Discursivos Foucaultianos (arqueogenealogia) que traz em seu arcabouço teórico conceitos fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa, como as noções de sujeito, a construção de subjetividades por meio da escrita de si e as relações com o saber e o poder para entender quem era Carolina, de onde ela produzia seu discurso e porque o discurso desta autora carrega tamanha força que mesmo sendo invisibilizado por um período, retorna na atualidade. Acreditamos que, após analisarmos o discurso da escritora Carolina Maria de Jesus, a sociedade e a mídia, como estudado em Foucault, buscam controlar, invisibilizar e silenciar os sujeitos que não detêm o poder. Carolina mostrou o quão a literatura (escrita de si) foi importante em sua vida sob dois aspectos: o de ressignificação de verdades que constituíram uma nova Carolina, assim como o ato da denúncia ao retratar a violência, a miséria, a fome, a desumanidade que é a vida em um ambiente abandonado pelo Estado e pela sociedade, como a favela.
Palavras-chave: Análise de Discurso. Literatura Negra. Quarto de Despejo. Escrita de Si. Subjetividades.
ABSTRACT
The story of Carolina Maria de Jesus is still not well known to the Brazilian public, not even to those who today produce or consume the so called marginal literature. However, the representativeness of her work for the voices that remain silenced is fundamental as a precursor and a inspiration. A resident of the slums in Canindé, in the north of São Paulo, Carolina met the journalist Audálio Dantas on one of his visits to the area. This approximation resulted in the publication of her diaries, in which she described the daily life of the community like no one else had done it, in notebooks that she found in the trash. The author, a black woman, is one of the pioneers of Black Literature. As the protagonist of her story, she brought in her discourse the resistance and confrontation to power in order to overcome the codes that sustained social inequality in the country. Carolina was fully aware that she was a writer and that she had something to say about the locus where she found herself. In this way, it was important to observe how these peripheral voices became visible through Carolina in the 50s, until the author was silenced by the media, in the dictatorial period. This research aims to analyze the discursive fragments of Carolina Maria de Jesus in the book Quarto de Despejo: diário de uma favelada (Child of the Dark: The Diary of Carolina Maria de Jesus), having as objectives: to identify the historical and social context from which the author produces her discourse, to analyze through self-writing her self-construction as a writer/author/poet that placed herself against the status quo, to investigate how was media’s reception of her work in 1960, then how it silenced her and resumed it from the 1980s onwards. The theoreticalmethodological framework of this research was based on Foucaultian Discursive Studies (archegenealogy) which brings in its theoretical framework fundamental concepts for the development of this research, such as the notions of the subject, the construction of subjectivities through self-writing and relationships with the knowledge and power to understand who Carolina was, where she produced her discourse from and why this author's discourse carries such strength that even though she was invisible for a period, it strongly returns today. We believe that, after analyzing the discourse of the writer Carolina Maria de Jesus, society and the media, as studied in Foucaultian thought, seek to control, make invisible and silence the subjects who do not hold power. Carolina has shown how important literature (self-writing) was in her life in two ways: the redefinition of truth that constituted a new Carolina, as well as the act of denouncing when portraying violence, misery, hunger, inhumanity which is life in an environment abandoned by the State and society, such as the slums.
Keywords: Discourse Analysis. Black Literature. Child of the Dark. Self-Writing. Subjectivities.
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Tipo |
Defesa-Mestrado |
Texto Completo |
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