UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Lingüística e Língua Portuguesa

Aluno(a) André Luiz Machado
Titulo Fala, canto e música: Limites e interseções
Orientador(a) Gladis Massini-Cagliari
Data 23/05/2022
Resumo Os limites e as interseções entre fala, canto e música – em especial no que se refere à expressão
das emoções – são objeto deste trabalho. Pensando especificamente no canto, a literatura da
área começa a questionar se cantar e falar são fazeres distintos que se utilizam da mesma
materialidade, ou então polos opostos em um contínuo. Nesse sentido, o que faz com que o rap
ou o recitativo de uma ópera sejam interpretados como “não-canto”, enquanto alguns sotaques,
por exemplos, são considerados “mais cantados” do que outros? De um ponto de vista teórico,
a discussão e a busca por parâmetros objetivos que nos permitam demarcar os limites entre
música, canto e fala nos levam, a princípio, a pensar na estabilidade das frequências sequenciais
e na regularidade rítmica do enunciado, bem como nas próprias definições de língua, linguagem
e significado. Com base em experimentos já realizados com falantes de inglês americano,
holandês e japonês (que verificaram coincidências acústicas na expressão de emoções tanto na
fala quanto na música), amostras bissilábicas de atores e músicos expressando quatro emoções
básicas (raiva, alegria, tristeza e simpatia) foram analisadas através dos programas Praat e
Melodyne, de modo a se obter estilizações das curvas melódicas, as quais correspondem a
intervalos musicais. Assim, pode-se verificar se os intervalos musicais também podem ser
considerados parâmetros acústicos confiáveis na expressão de carga emocional nos enunciados,
e se a ocorrência desses intervalos na fala também corresponde ao uso desses intervalos na
música. Em outro experimento, através da aplicação de um questionário online, informantes
foram expostos a duas versões da mesma gravação de um enunciado cantado, sendo uma delas
alterada digitalmente de modo a mudar os intervalos da melodia. Ao pedir que os informantes
associassem o estímulo sonoro a uma dentre quatro imagens de expressões faciais médias das
emoções da coleção Averaged Karolinska Directed Emotional Faces – AKDFE, buscamos
verificar se a manipulação dos intervalos cantados acarretaria associações distintas. Por fim,
também através de questionário online e da exposição a amostras de fala em diferentes idiomas,
tentamos lançar luz à percepção de alguns idiomas como mais melodiosos do que outros. Os
resultados obtidos neste trabalho podem ser resumidos em três pontos: 1) a expressão das
emoções por parte dos falantes de português brasileiro não apresentou correspondências ao uso
de intervalos musicais; 2) a percepção da carga emocional de um enunciado melódico não foi
correlacionada com a presença de intervalos específicos, mas com a percepção de tonalidade
expressa pela melodia; 3) um menor número de consoantes e, principalmente, maior variação
da altura melódica, são fatores que parecem estar ligados à percepção de uma língua como mais
musical e melodiosa. Para além destes resultados, argumentamos que vários trabalhos anteriores
comparando a expressão na música e na fala não apresentam a clareza necessária na definição
de conceitos, e apontamos a investigação da percepção estética das características fonéticas e
fonológicas dos idiomas como um campo potencialmente contencioso, mas promissor.
Palavras-chave: Fonética. Música. Emoções. Percepção.

Abstract:The limits and intersections between speech, singing and music – especially with regard to the
expression of emotions – are the object of this work. Specifically, as far as singing is concerned,
the literature in the area begins to question whether singing and speaking are distinct activities
that use the same materiality, or rather two opposite poles in a continuum. In this sense, what
makes rap or opera recitative interpreted as “non-singing”, while some accents, for example,
are considered to sound “more like singing” than others? From a theoretical point of view, the
discussion and the search for objective parameters that allow us to demarcate the boundaries
between music, singing and speech lead us, at first, to think about the stability of a sequence of
frequencies and the rhythmic regularity of the utterance, as well as the definitions of language
and meaning themselves. Based on experiments already carried out with speakers of American
English, Dutch and Japanese (which verified acoustic coincidences in the expression of
emotions in both speech and music), bisyllabic samples of actors and musicians expressing four
basic emotions (anger, joy, sadness and sympathy) were analysed using the programs Praat and
Melodyne, in order to obtain stylisations of the melodic curves corresponding to musical
intervals. Thus, we can verify whether musical intervals can also be considered reliable acoustic
parameters in the expression of emotional charge in utterances, and whether the occurrence of
these intervals in speech corresponds to the use of these intervals in music. In another
experiment, via an online questionnaire, informants were exposed to two versions of the same
recording of a sung utterance, one of them digitally altered in order to change the melody
intervals. By asking the informants to associate the sound stimuli to one of four images of
average facial expressions of emotions from the Averaged Karolinska Directed Emotional
Faces – AKDFE collection, we sought to verify whether the manipulation of the sung intervals
would lead to distinct associations. Finally, also via an online questionnaire and exposure to
speech samples in different languages, we tried to shed some light on the perception of some
languages as more melodious than others. The results reached in this enterprise can be
summarised as follows: 1) the emotional expression in the speech of Brazilian Portuguese
speakers showed no correspondence to the use of musical intervals; 2) the perception of the
emotional content of a melodic utterance had no correlation with the presence of specific
musical intervals, rather, it correlated with the perception of tonality expressed by the melody;
3) a lower number of consonants and, more remarkably, greater pitch variation seem to lead a
given language to be perceived as more musical and melodious. These results aside, we also
argument that many works comparing emotional expression in music and speech do not present
the necessary clarity in the definition of concepts, and we put forward the investigation of the
aesthetic perception of languages' phonetic and phonological features as a potentially
contentious, yet promising, field.
Keywords: Phonetics. Music. Emotions. Perception.
Tipo Defesa-Doutorado
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APG 2.0
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