UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Lingüística e Língua Portuguesa

Aluno(a) Gustavo Henrique Rodrigues de Castro
Titulo A EDIÇÃO COMO PRÁTICA SEMIÓTICA: Estudo da identidade editorial “Hilda Hilst” em Da poesia
Orientador(a) Prof. Dr. Matheus Nogueira Schwartzmann
Data 30/04/2020
Resumo Resumo: Este estudo se apoia nos trabalhos de Jacques Fontanille sobre os níveis de pertinência da
análise semiótica, especialmente naqueles que permitem refletir sobre uma Semiótica da
Cultura de base linguística e discursiva, interessada não apenas pela análise do sentido
produzido por textos e discursos, mas também pelos problemas de significação que emergem
de sua circulação. Desse modo, em diálogo com a obra de Gérard Genette no que se refere à
noção de paratexto, analisamos os procedimentos editoriais (a prática semiótica de edição) da
obra “Da poesia”, volume de poemas completos da escritora brasileira Hilda Hilst. Ao avançar
sobre temas como suporte, prática, edição e (re)valoração da obra literária em perspectiva
linguístico-discursiva, o trabalho se estabelece como experiência de uma semiótica da
circulação de inspiração fontanilliana. O seu objetivo principal é demonstrar como a prática de
edição atua na construção do que chamamos aqui de “identidade editorial Hilda Hilst”, que não
se confunde nem com uma identidade autoral (identidade global, que atravessa a obra) nem
com a identidade enunciativa dos poemas (identidade local, homologável à dimensão do eulírico). Segundo nossa hipótese, a construção dessa identidade editorial ocorre por meio de uma
estratégia marcada por outras duas práticas semióticas, que surgem, na obra, subjacentes à
prática de edição: a prática da crítica, que atesta o valor literário, estético e social da obra, e a
prática mercadológica, que atesta o seu valor de consumo e de venda. Nesse cenário, a prática
de edição, quando orientada por uma axiologia crítico-literária, atenuaria os valores
considerados polêmicos, buscando, com isso, responder a uma demanda de (re)valoração da
obra de Hilst e de apagamento de sua “biografia”. Já quando orientada em função de valores de
mercado, intensificaria esses mesmos aspectos polêmicos, com vistas a uma comercialização
mais eficaz, considerando a “personalidade polêmica” um fator positivo para as vendas. A partir
dos resultados obtidos, o trabalho demonstra que a prática de edição é um fenômeno semiótico
capaz de pautar, numa dada cultura, os procedimentos de consagração de um texto literário na
medida em que determina as modalidades de circulação de uma obra. No caso de “Da poesia”,
certos discursos sobre o autor (Hilst), amplificados pelo gesto editorial, funcionam como base
para a construção de uma “narrativa de vida” que serve aos objetivos de uma Editora. Vê-se,
ainda, como outros recursos de edição (notas do editor, fotografias etc.) atuam, justamente, na
atenuação ou na amplificação desses discursos (polêmicos) que a prática de edição retoma.
Pode-se concluir, assim, que o “valor da obra” não depende apenas de seu valor como texto
literário, mas também de sua apropriação e reprodução por outras instâncias socioculturais —
colocando em xeque a suposta autonomia que, historicamente, tem sido atribuída ao texto
literário.
Palavras-chave: Identidade editorial. Hilst, Hilda. Níveis de Pertinência da Análise Semiótica.
Prática de Edição. Semiótica Francesa.

Abstract: This study is based on the work of Jacques Fontanille about the levels of relevance of semiotic
analysis, especially those that allow us to reflect about the Semiotics of Culture on a linguistic
and cultural basis, interested not only in the analysis of the meaning produced by texts and
discourses, but also by the problems of signification that emerge from their circulation. Thus,
in dialogue with Gérard Genette’s work regarding the notion of paratext, we analyze the
editorial procedures (the semiotic practice of editing) of the work “Da poesia”, a volume of
complete poems by the Brazilian writer Hilda Hilst. By advancing on themes such as support,
practice, editing and (re)valorization of the literary work in a linguistic-discursive perspective,
the work establishes itself as an experience of a Fontanillian-inspired semiotics of circulation.
Its main objective is to demonstrate how the practice of editing acts in the construction of what
we call “Hilda Hilst’s editorial identity”, which is not to be confused either with an authorial
identity (global identity, which runs through the work) or with the enunciative identity of the
poems (local identity, homologous to the dimension of the lyric self). According to our
hypothesis, the construction of this editorial identity occurs through a strategy marked by two
other semiotic practices, which appear in the work underlying the editing practice: the critical
practice, which attests to the literary, aesthetic, and social value of the work, and the marketing
practice, which attests to its value of consumption and selling. In this scenario, the editing
practice, when guided by a critical-literary axiology, would attenuate the values considered
controversial, seeking to respond to a demand for (re)valuing Hilst’s work and erasing her
“biography”. But when oriented towards market values, it would intensify those same polemical
aspects, aiming at a more effective marketing, considering the “polemical personality” a
positive factor for sales. From the results obtained, the work demonstrates that the practice of
editing is a semiotic phenomenon capable of guiding, in a given culture, the consecration
procedures of a literary text, since it determines the modalities of circulation of a work. In the
case of “Da poesia”, specific discourses about the author (Hilst), amplified by the editorial
gesture, act as the basis for the construction of a “narrative of life” that serves the objectives of
a Publisher. We also see how other editing resources (editor’s notes, photographs, etc.) operate,
precisely, in the attenuation or amplification of these (polemical) discourses that the editing
practice resumes. Thus, considering that several axiologies are mobilized within a given volume
(such as the literary-artistic, the critical, the advertising), we conclude that the “value of the
work” does not depend only on its value as a literary text, but also on its appropriation and
reproduction by other sociocultural instances — questioning the supposed autonomy that has
historically been attributed to the literary text.
Keywords: Editorial identity. Hilst, Hilda. Levels of Relevance of Semiotic Analysis. Editing
Practice. French Semiotics.
Tipo Defesa-Mestrado
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APG 2.0
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