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Aluno(a) |
Maria Madalena Borges Gutierre |
Titulo |
A ESTÉTICA DO RISÍVEL EM CHARGES D’O PASQUIM NOS TEMPOS DO AI-5: diálogos na produção do discurso humorístico |
Orientador(a) |
Profa. Dra. RENATA MARIA FACURI COELHO MARCHEZAN |
Data |
20/12/2016 |
Resumo |
RESUMO
No contexto das relações sociais, na cultura ocidental, parece consenso tendermos à seriedade. Esse modo de olhar para as coisas da vida e do mundo traduz a concepção de que encarar conflitos e angústias com humor ameaça a ordem e subverte um mundo considerado disciplinado. “Rir o tempo todo” sintetiza, contrariamente a tais princípios, a proposta do jornalismo alternativo do semanário O Pasquim, lançado em junho de 1969, no Rio de Janeiro, em meio aos conflitos políticos marcadamente repressivos e violentos da ditadura militar brasileira. Em um cenário de tensão e repressão política, os significados do humor e a produção do risível caricatural pasquiniano excedem o rir por rir, traduzem nas entrelinhas posicionamentos e visões de mundo que dificilmente se fariam presentes no discurso da imprensa tradicional, durante o regime autoritário. Nesta tese, desenvolvemos uma proposta de estudo que toma como referência a essência representativa da linguagem no contexto de produção e circulação, de modo a considerar não apenas o registro histórico como também a evidencia de posicionamentos ideológicos e modos de conceber o mundo e a vida, vinculados à existência social e cultural dos indivíduos e dos acontecimentos de que participam. Na perspectiva teórico-filosófica do pensador russo Mikhail Bakhtin (2010), a linguagem retrata e refrata os movimentos sociais; ao mesmo tempo, define-se nas esferas sociais em que é produzida, constituindo-se em gêneros de discursos. O objetivo da pesquisa é analisar a estética do humor caricatural no Pasquim, entre 1970 e 1975, quando esteve em censura no regime militar, a partir da investigação de que o discurso jornalístico hibridiza-se com outros discursos, sobretudo artísticos, na constituição do estilo caricatural. Nesse processo, a crítica dilui-se na arte, como objeto de denúncia e oposição ao regime militar e veiculação de posições axiológicas de um enunciador socialmente representado. O estilo caricatural d’O Pasquim é interpretado em relação à produção do risível, relativamente ao discurso humorístico. Subjetividade e coloquialidade são fortes marcas no estilo de linguagem. Para ampliar as reflexões sobre o risível no estilo caricatural, procuramos estabelecer possíveis diálogos entre Mikhail Bakhtin (1997; 2000; 2002; 2008; 2010) e Henri Bergson (2007). Nos estudos da caricatura, os diálogos estabelecem-se entre Ernest Gombrich (1986) e Georg Simmel (2009), sobretudo no que concerne ao aspecto social do riso e sua dinâmica na sociedade bem como a produção de um risível grotesco, caricatural e ambivalente. Como referências nas discussões sobre censura, apoiamo-nos nos estudos de Carlos Fico (2004), Anne-Marie Smith (2000) e Beatriz Kushnir (2004). Na organização final da tese, a discussão é apresentada em quatro capítulos. Considerações introdutórias compõem o primeiro capítulo, ampliado com abordagens sobre o riso e o risível caricatural. No segundo capítulo, tratamos de diálogos teóricos em torno de caricatura e estilo caricatural, com antecipação de dados de análise do corpus. No terceiro capítulo, traçamos o percurso da imprensa alternativa no Brasil, no regime militar, para a compreensão dos movimentos de censura e suas interferências no jornalismo alternativo e no estilo caricatural praticado pelo Pasquim. No quarto capítulo, consolidamos a análise do corpus, com vistas a descrever a constituição do estilo caricatural no semanário, nos momentos mais tensos e incisivos da censura militar.
Palavras-chave: Caricatura. Charge. Gêneros de discursos. Estilo. Censura prévia e autocensura.
ABSTRACT
In the context of social relations, in Western culture, it seems consensual that we tend to be serious. This way of looking at the things of life and of the world translates the conception that facing conflicts and anxieties with humor threatens order and subverts a world considered disciplined. "Laughing all the time" synthesizes, contrary to such principles, the alternative journalism proposal of the weekly O Pasquim, released in June 1969 in Rio de Janeiro, amidst the markedly repressive and violent political conflicts of the Brazilian military dictatorship. In a scenario of tension and political repression, the meanings of humor and the production of laughable caricature exceed the laughing by laughing, translate between the lines positions and world views that hardly would be present in the discourse of the traditional press, during the authoritarian regime. In this thesis, we develop a study proposal that takes as reference the representative essence of language in the context of production and circulation, so as to consider not only the historical record but also the evidence of ideological positions and ways of conceiving the world and life, linked to the social and cultural existence of individuals and the events in which they participate. In the theoretical-philosophical perspective of the russian thinker Mikhail Bakhtin (2010), language portrays and refracts social movements; at the same time, it is defined in the social spheres in which it is produced, constituting itself in genres of discourses. The aim of the research is to analyze the aesthetics of caricature humor in Pasquim between 1970 and 1975, when it was censored in the military regime, from the investigation that the journalistic discourse hybridizes with other discourses, mainly artistic, in the constitution of the style caricature in this process, criticism is diluted in art as an object of denunciation and opposition to the military regime and the placement of axiological positions of a socially represented enunciator. The caricatured style of O Pasquim is interpreted in relation to the production of laughable, in relation to humorous discourse. Subjectivity and colloquiality are strong marks in language style. In order to expand the reflections on the laughable in the caricature style, we tried to establish possible dialogues between Mikhail Bakhtin (1997, 2000, 2002, 2008, 2010) and Henri Bergson (2007). In the caricature studies, the dialogues are established between Ernest Gombrich (1986) and Georg Simmel (2009), especially with regard to the social aspect of laughter and its dynamics in society as well as the production of a grotesque, caricatured and ambivalent laugh. As references in the discussions on censorship, we rely on the studies of Carlos Fico (2004), Anne-Marie Smith (2000) and Beatriz Kushnir (2004). In the final organization of the thesis, the discussion is presented in four chapters. Introductory considerations make up the first chapter, broadened with approaches on laughter and laughable caricature. In the second chapter, we deal with theoretical dialogues about caricature and caricature, with anticipation of corpus analysis data. In the third chapter, we outline the alternative press in Brazil, the military regime, to understand the censorship movements and their interference in alternative journalism and the caricature style practiced by Pasquim. In the fourth chapter, we consolidated the analysis of the corpus, with a view to describing the constitution of the caricature style in the weekly, in the most tense and incisive moments of military censorship.
Keywords: Caricature. Charge. Discourse genres. Style. Prior censorship and self-censorship. |
Tipo |
Defesa-Doutorado |
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