UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Estudos Literários

Aluno(a) Bruno Curcino Mota
Titulo Raduan Nassar e a lavoura dos dizeres: entre Provérbios e Cantares
Orientador(a)
Data 31/05/2010
Resumo Este trabalho é uma visada interpretativa sobre o romance Lavoura arcaica, do escritor paulista Raduan Nassar, uma leitura que parte de conceitos centrais desenvolvidos pelo chamado Círculo de Bakhtin, como dialogismo, gêneros discursivos, cronotopo e polifonia, para pensar a tessitura verbal do romance em toda a sua complexidade. Nossa hipótese é que vigas/vozes mestras da arquitetônica do romance ressoam dialogicamente a poesia do Cântico dos Cânticos – jardim metafórico que exala erotismo no coração das Escrituras – e a sintaxe enrijecida da lei (em)pregada nos Provérbios. Os discursos bíblicos, das tradições mediterrâneas, que foram paulatinamente edulcorados, submetidos aos posicionamentos ideológicos dos mais velhos, transformados em tábua de lei, tornam-se, em Lavoura arcaica, palco de luta. A apropriação que os personagens tentam fazer dessas palavras “para seu uso próprio” faz surgir entre eles relações dialógicas. A palavra passa a ter dupla orientação – uma direcionada para o objeto do discurso (um tema, uma ordem, um mandamento), outra para o discurso do outro; os tensos diálogos entre Pedro e André e deste com seu pai bem o confirmam. Reafirmamos que queremos investigar em profundidade como esse tensionamento se faz projetar em todas as camadas do discurso (lexical, sintática, sonora, imagética), visto que em Lavoura arcaica os discursos interpenetram-se, chocam-se, fundem-se, polemizam entre si, criando por vezes a imagem de um remoinho, que é a vertigem mesma do sujeito-narrador (André) – seu purgatório em vida. A progressão de nossa análise revelou que a própria literatura sapiencial bíblica sofre uma espécie de crise na voz dos redatores de livros como Jó e Qohélet, colocando em xeque a teoria da retribuição preconizada em Provérbios e nos discursos de Iohána, o que permitiu uma reflexão, que fecha a análise, sobre a forma como a revolta se torna fundamental na constituição da consciência de André. A revolta dá turgidez ao seu verbo e permite que as palavras ganhem agudeza para abrir brechas na pretensa catedral inexpugnável dos dizeres paternos.


Palavras-chave: Lavoura arcaica. Dialogismo. Cântico dos cânticos. Provérbios. Revolta.
Tipo Defesa-Doutorado
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