UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Ciências Sociais

Aluno(a) Patrícia Olsen de Souza
Titulo Fazer ciência, fazer história: a sociologia da mudança social de Florestan Fernandes e Costa Pinto
Orientador(a)
Data 05/08/2011
Resumo Esta tese discute as abordagens teóricas e interpretativas de Florestan Fernandes e L. A. Costa Pinto sobre a mudança social no Brasil. Os dois sociólogos participaram ativamente do debate intelectual sobre o desenvolvimento travado nas décadas de 1950 e 1960, momento decisivo para a implantação do capitalismo no Brasil, marcado pela disputa de projetos sobre os rumos do país em meio à crescente articulação da sociedade civil. Nesse contexto, distanciando-se do nacionalismo hegemônico no debate intelectual e a partir de perspectivas distintas – próximas em alguns pontos, distantes em outros – Fernandes e Costa Pinto pensaram a particularidade da mudança social nos países subdesenvolvidos, enveredando-se no debate de questões epistemológicas sobre os procedimentos adequados para a sociologia contribuir com o processo de mudança social em curso, pois, para os dois autores, o conhecimento sociológico, além de produto, era visto também como co-produtor da história. O problema central de Fernandes era o processo e os obstáculos estruturais à constituição do padrão de civilização ocidental no Brasil – baseado na democracia, na racionalidade e no uso do conhecimento científico para o planejamento social. Para enfrentar essas questões o autor cunhou um arcabouço teórico-metodológico e conceitual a partir da síntese sociológica (no sentido mannheimiano) de elementos extraídos da tradição durkheimiana, marxista e weberiana e, também, do diálogo com a sociologia norte-americana. Por meio desse procedimento identificou a demora cultural como o principal obstáculo ao avanço da sociedade de classes no Brasil – na década de 1950. Em meio à radicalização da sociedade brasileira no início dos anos de 1960, ao aprofundamento do processo de do debate intelectual sobre o desenvolvimento, Fernandes passou a compreender o padrão de mudança social no Brasil como exclusivista, unilateral, formalista, irracional e antidemocrático porque conduzido por elites de horizonte mental estreito. Costa Pinto analisou a mudança social no Brasil por meio do conceito de marginalidade estrutural. A noção de estrutura social utilizada pelo autor é inspirada nas formulações de Karl Marx; a ela acoplou a ideia de contemporaneidade do não coetâneo de Willem Pinder. Nesse registro, o processo de mudança social era caracterizado pela coexistência de duas estruturas econômicas e sociais e de dois padrões de relações sociais: uma tradicional e arcaica, outra moderna e capitalista, ambas exercendo influência modeladora da vida social e por isso marginalizando a sociedade entre as alternativas apresentada pelos dois padrões, já que nenhum tinha força suficiente para se impor sobre o outro. Dessa polarização de alternativas resultava a indefinição e a descontinuidade na vida social que assinalavam o processo de mudança social no Brasil. A mudança se dava, para esse autor, por meio de ambivalências, conflitos e acomodações entre o tradicional e o moderno – este, também, concebido como problemático. Por meio de seus trabalhos analíticos e teóricos Florestan Fernandes e Costa Pinto constituíram-se em construtores privilegiados do léxico-linguístico pelo qual a sociologia pensou a mudança social no Brasil e na América Latina nas décadas de 1950 e 1960.

Palavras-chaves: Florestan Fernandes; Costa Pinto; Sociologia; Desenvolvimento; Mudança Social; Marginalidade Estrutural; Padrão de mudança exclusivista, unilateral, formalista, irracional e antidemocrático.

ABSTRACT
This thesis discuss theoretical and interpretative approaches of Florestan Fernandes and L. A. Costa Pinto about social change in Brazil. These two sociologists actively participated in the intellectual debate about the development that happened in the 1950's and 1960's, decisive moment for the implantation of Brazil's capitalism, marked by project contests about the country's routes amid the rising linkage of civil society. In that context, distancing from the hegemonic nationalism in intellectual debate e from separate perspectives – close at a certain point, distant at others – Fernandes and Costa Pinto thought about the singularities of social change in underdeveloped countries, joining the debate of epistemological questions about the apropriate procedures that would allow sociology to contribute with the social change process on course, because these two authors understand the sociological knowledge simultaneously as History products and History producers. Fernandes' main problem was the process and the structural hurdles for the constitution of Brazil's civilization standard – based on democracy, on rationality and on the use of scientific knowledge for social planning. To face these questions, the author distilled a theoretical methodological and conceptual understructure from the sociological synthesis (in Mannheim's sense) of elements extracted from Durkheim,Marx and Weber tradition and, also, from the dialogue with North American sociology. By means of this procedure he identified the cultural delay as the main obstacle for the progress of class society in Brazil – in the 1950's. Amid Brazilian society's radicalisation in the early 1960's, the deepening of intellectual process about development, Fernandes was able to understand Brazil's social change standard as exclusivist, unilateral, formalist, irrational and antidemocratic because it is conducted by elites with limited mental horizons. Costa Pinto analysed social change in Brazil through the concept of structural marginality. The notion of social structure used by the author is inspired by Marx's; he added to it he idea of contemporaneity from the non-contemporary Willem Pinder. In this register, the process of social change was characterized by the coexistence of two social and economic structures and two standards of social relations : a traditional and archaic one, and another modern and capitalist one, both exercesing a shaping influence on sociallife and, for that reason, marginalizating the society between the alternatives presented by those two standards, since none of them was strong enough to bring down the other one. From that polarization of alternatives resulted indefinition and descontinuity of social life that marked the social change process in Brazil. That change happened through ambivalences, conflicts and accommodations between traditional and modern – this one was also conceived as problematical. By the means of their analytic and theoretical works, Florestan Fernandes and Costa Pinto became builders of the lexical linguistic whereby sociology thought about social change in Brazil and Latin America in the 1950's and 1960's.

Key-words: Florestan Fernandes; Costa Pinto; Sociology; Development; Social Change; Structural Marginality; Exclusivist, unilateral, formalist, irrational and antidemocratic social change standard .
Tipo Defesa-Doutorado
Texto Completo

APG 2.0
Copyright 2014 (c) UNESP - Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Araraquara